Vivemos mais do que nunca. Se no início do século XX a expectativa de vida girava em torno dos 34 anos, hoje ultrapassamos facilmente os 80 anos em muitos países.
Esse aumento na longevidade é uma conquista histórica da humanidade. No entanto, junto com o envelhecimento da população, aumentam também os casos de doenças crônicas, degenerativas e incuráveis — como o câncer, as demências e as doenças cardíacas e pulmonares.
Mas o que acontece quando a medicina chega ao seu limite? Quando não há mais como oferecer cura, o que pode ser feito? A resposta está nos Cuidados Paliativos — uma abordagem que busca oferecer dignidade, conforto e sentido à vida até o seu último instante.
O Que São Cuidados Paliativos?
A Organização Mundial da Saúde (OMS) define os Cuidados Paliativos como:
“Uma abordagem que melhora a qualidade de vida de pacientes e seus familiares diante de doenças que ameaçam a continuidade da vida, por meio da prevenção e do alívio do sofrimento, com avaliação precoce, identificação e tratamento da dor e outros problemas físicos, psicossociais e espirituais.”
Diferente da medicina curativa, que busca eliminar a doença, os cuidados paliativos focam em aliviar sintomas, reduzir o sofrimento e apoiar emocionalmente tanto o paciente quanto sua rede de apoio. Eles são oferecidos não apenas no fim da vida, mas desde o diagnóstico de uma doença grave, mesmo que o paciente esteja sendo tratado.
Números Que Falam Alto: A Realidade Mundial dos Cuidados Paliativos
Dados recentes da OMS (2020–2022) mostram a magnitude da necessidade de cuidados paliativos no mundo:
- Mais de 56,8 milhões de pessoas precisam de cuidados paliativos a cada ano.
- Cerca de 40 milhões estão em fase avançada de uma doença crônica ou incurável.
- 80% das pessoas com câncer em estágio terminal apresentam dores intensas e sofrimento físico severo.
- Dois terços dos pacientes vivem em países de baixa e média renda, onde o acesso a cuidados paliativos ainda é muito limitado.
Esses números evidenciam uma urgência global: não basta viver mais — é preciso viver com qualidade, mesmo diante do sofrimento.
Qual o Papel dos Profissionais de Saúde nos Cuidados Paliativos?
A atuação paliativa é feita por equipes multiprofissionais que trabalham juntas para dar suporte integral ao paciente. Isso inclui:
- Psicólogos, psicoterapeutas e acompanhantes terapêuticos (ats), oferecendo acolhimento e estratégias para lidar com o sofrimento emocional, existencial, psicológico, etc.
- Médicos, enfermeiros, acupunturistas e outros profissionais atuando no controle de dor e sintomas físicos.
- Fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais e outros mantendo a funcionalidade e o conforto físico.
- Espiritualidade e assistência religiosa, respeitando a fé e os valores do paciente.
- Assistentes sociais, ajudando na organização da rede de apoio e enfrentamento social da doença.
A comunicação aberta, o respeito à autonomia do paciente e a empatia são pilares fundamentais desse processo.
Quando Começar os Cuidados Paliativos?
Ao contrário do que muitos pensam, os Cuidados Paliativos não são sinônimo de fim da linha. Eles podem e devem ser iniciados ainda durante os tratamentos, especialmente quando já se sabe que há limitações quanto à cura.
Esse cuidado contínuo reduz hospitalizações desnecessárias, melhora o humor, o sono, o apetite e o relacionamento com a família, além de ajudar o paciente a ressignificar a própria vida, mesmo em sua fase final.
Mitos Comuns Sobre Cuidados Paliativos
🚫 “É só para quem está morrendo.”
✅ Errado. Pode (e deve) ser iniciado cedo, junto ao tratamento da doença.
🚫 “É só para idosos.”
✅ Errado. Crianças, adolescentes e adultos jovens com doenças graves também se beneficiam.
🚫 “É desistir do paciente.”
✅ Muito pelo contrário: é cuidar com profundidade, mesmo quando não há cura.
A Vida Ainda Importa: O Valor da Transição com Dignidade
A morte ainda é um tabu em nossa sociedade. Evitamos falar sobre ela, planejá-la ou mesmo pensá-la. Mas a verdade é que todos nós vamos passar por esse momento — direta ou indiretamente, como pacientes ou como cuidadores de alguém amado.
Os Cuidados Paliativos nos lembram de que é possível viver com dignidade até o fim. Como dizia a Cicely Mary Strode Saunders (1918-2005), médica, enfermeira, assistente social e escritora inglesa, tida como uma das pioneiras nos cuidados paliativos e considerada a fundadora do movimento moderno hospice.
“Você importa porque você é você. E importa até o último momento da sua vida.”
Conclusão: Quando a Cura Não Existe, o Cuidado é a Resposta
Ainda que a ciência não possa oferecer a cura, sempre podemos oferecer presença, escuta, conforto e respeito. O Cuidado Paliativo é uma forma de amor em ação — um lembrete de que a vida tem valor, mesmo em sua fase de transição.
Dica Final para Profissionais e Familiares:
Busque informações sobre os serviços de Cuidados Paliativos disponíveis em sua cidade. Muitos hospitais já contam com equipes especializadas.
Converse com o paciente sobre seus desejos, crenças e limites.
Se possível, inclua o cuidado psicológico, emocional, acompanhantes terapêuticos (ats) e até espiritual (conforme as crenças do paciente) como parte fundamental do tratamento.
Fontes:
- Organização Mundial da Saúde (OMS). Palliative Care. https://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/palliative-care
- Global Atlas of Palliative Care, 2ª ed. (2020). WHPCA & OMS.
- Saunders, C. (1986). Hospice and Palliative Care: An interdisciplinary approach.
Autor: Alex Tavares é psicólogo (CRP 07/11807), psicoterapeuta, mestre em Psicologia (UFRGS), supervisor presencial e/ou on-line em Acompanhamento Terapêutico, Psicologia e Terapia Cognitiva-Comportamental (TCC), menção honrosa pelo Conselho Regional de Psicologia (CRPRS). Além disso, é autor de vários livros e artigos publicados em livros, revistas e periódicos nacionais e internacionais. Desde 2005, tem autorização do Conselho Federal de Psicologia do Brasil (CFP) para prestar a Psicologia On-Line. Autor do primeiro livro de Psicologia on-line do Brasil e primeiro livro digital do planeta sobre atendimento via internet com área de membros 24 horas, vídeos, sons (mp3) e jogos virtuais (Quiz). Criador do 1º “Congresso On-line de Saúde Mental” do planeta. Coordenador do primeiro curso de Acompanhamento Terapêutico via internet do planeta. Professor da Academia Portal Dr: desenvolvimento pessoal com saúde e ciência. Ele também tem Canal de Psicologia, saúde e desenvolvimento pessoal no YouTube.
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