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Transtorno Bipolar: Diagnóstico, Tratamento e Perspectivas Terapêuticas com TCC e Acupuntura

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Introdução

O Transtorno Bipolar, anteriormente conhecido como Psicose Maníaco-Depressiva, é uma condição psicopatológicas complexas e, se não tratada, pode ser debilitante. Marcado por episódios de mania, hipomania e depressão, o transtorno afeta o humor, o comportamento, o funcionamento social e a qualidade de vida do indivíduo.

Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), o transtorno bipolar afeta aproximadamente 2,4% da população mundial.

Embora as causas sejam multifatoriais — incluindo aspectos genéticos, neurobiológicos, psicossociais e ambientais —, o diagnóstico criterioso e o tratamento adequado permitem uma boa estabilização dos sintomas e uma vida funcional e produtiva.

Neste artigo, abordaremos os principais critérios diagnósticos segundo o DSM-5 e a CID-11, as abordagens terapêuticas convencionais e, especialmente, o papel do Acompanhamento Terapêutico (AT), da Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) e da Acupuntura no manejo da condição.


1. O que é o Transtorno Bipolar?

O Transtorno Bipolar é uma condição crônica caracterizada por alterações intensas no humor, que vão de episódios de euforia extrema (mania ou hipomania) a episódios de depressão profunda.

Essas oscilações não se resumem a mudanças de humor comuns: elas impactam significativamente o pensamento, o sono, o comportamento, o julgamento e a funcionalidade do indivíduo.

A condição é subdividida, principalmente, em dois tipos:

  • Transtorno Bipolar tipo I: inclui pelo menos um episódio de mania, podendo ou não haver episódios depressivos.
  • Transtorno Bipolar tipo II: caracteriza-se por episódios recorrentes de depressão e pelo menos um episódio de hipomania (forma mais branda da mania).

2. Diagnóstico segundo o DSM-5

O Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5), publicado pela American Psychiatric Association (APA), define critérios específicos para os episódios maníacos, hipomaníacos e depressivos.

2.1. Episódio Maníaco

  • Humor persistentemente elevado, expansivo ou irritável por pelo menos 1 semana.
  • Três (ou mais) dos seguintes sintomas (quatro se o humor for apenas irritável):
    • Autoestima inflada ou grandiosidade.
    • Redução da necessidade de sono.
    • Fala excessiva ou pressão para falar.
    • Fuga de ideias ou sensação de pensamento acelerado.
    • Distratibilidade.
    • Aumento de atividades direcionadas a objetivos.
    • Envolvimento excessivo em atividades prazerosas, com alto risco (ex.: gastos excessivos, sexo desprotegido).

2.2. Episódio Hipomaníaco

  • Mesmos sintomas da mania, mas com duração mínima de 4 dias consecutivos.
  • Os sintomas não causam prejuízo marcante no funcionamento social ou ocupacional e não requerem hospitalização.

2.3. Episódio Depressivo Maior

  • Cinco (ou mais) dos seguintes sintomas presentes por pelo menos duas semanas:
    • Humor deprimido.
    • Perda de interesse ou prazer.
    • Alterações de peso ou apetite.
    • Insônia ou hipersonia.
    • Fadiga ou perda de energia.
    • Sentimentos de inutilidade ou culpa excessiva.
    • Dificuldade de concentração.
    • Pensamentos de morte ou suicídio.

3. Classificação na CID-11

A Classificação Internacional de Doenças, 11ª edição (CID-11), publicada pela OMS, também define o Transtorno Bipolar com critérios similares:

  • CID 6A60.0 Transtorno Bipolar Tipo I: Transtorno Bipolar Tipo I, com episódio atual maníaco sem sintomas psicóticos.
  • CID 6A60.1 Transtorno Bipolar Tipo II: Ao contrário do Transtorno Bipolar Tipo I, o Tipo II não apresenta episódios de mania completa, mas sim hipomania, que é uma forma mais leve de elevação do humor.
  • O CID-11 também considera o espectro de sintomas e a funcionalidade do indivíduo, com um enfoque mais dimensional.

4. Etiologia e Fatores de Risco

4.1. Fatores Genéticos

Estudos de gêmeos e familiares mostram uma forte hereditariedade. O risco para familiares de primeiro grau pode ser até 10 vezes maior.

4.2. Fatores Neurobiológicos

Alterações em neurotransmissores como dopamina, serotonina e norepinefrina, bem como disfunções no eixo hipotálamo-hipófise-adrenal (HHA), estão fortemente envolvidos.

4.3. Fatores Psicossociais

Estresse, traumas na infância, abuso de substâncias e ritmos circadianos irregulares podem desencadear ou agravar episódios.


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5. Tratamentos Convencionais

5.1. Psicofármacos

  • Estabilizadores de humor.
  • Antipsicóticos atípicos.
  • Antidepressivos.

5.2. Psicoeducação

Educar o paciente e a família sobre o transtorno reduz recaídas e melhora a adesão ao tratamento.

5.3. Acompanhamento Terapêutico (AT)

O Acompanhamento Terapêutico tem se mostrado uma prática clínica valiosa no manejo do Transtorno Bipolar, especialmente como suporte entre sessões formais de psicoterapia.

Atuando fora do tradicional setting, o AT oferece ao paciente um espaço relacional contínuo para trabalhar aspectos como regulação emocional, rotina, adesão ao tratamento e enfrentamento de situações sociais que podem funcionar como gatilhos para episódios de mania ou depressão.

Ao promover intervenções no cotidiano, o acompanhante terapêutico (at) auxilia na construção de autonomia, prevenindo recaídas e favorecendo a reinserção psicossocial, sobretudo em momentos de instabilidade emocional, quando o vínculo terapêutico e o cuidado sustentado tornam-se ainda mais cruciais.

5.4. Psicoterapias

Dentre elas, a mais eficaz e validada cientificamente é a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC).


6. TCC no Transtorno Bipolar

A TCC tem ganhado destaque como um complemento eficaz ao tratamento medicamentoso. Os pensamentos disfuncionais, os comportamentos de risco e o estresse psicossocial estão entre alguns dos possíveis alvos da intervenção cognitivo-comportamental.

6.1. Objetivos da TCC

  • Ajudar o paciente a identificar e manejar gatilhos emocionais.
  • Reduzir pensamentos automáticos disfuncionais.
  • Monitorar e regular o sono e os ciclos de humor.
  • Aumentar a adesão ao tratamento medicamentoso.
  • Prevenir recaídas.

6.2. Técnicas Usuais na TCC

  • Reestruturação cognitiva.
  • Registro de humor e pensamentos.
  • Treinamento em resolução de problemas.
  • Planejamento de atividades.
  • Treinamento em habilidades sociais e assertividade.

6.3. Evidências Científicas

Um estudo publicado (Ball et al., 2006) demonstrou que pacientes bipolares submetidos à TCC apresentaram menor número de recaídas em comparação com o grupo controle. Outros estudos corroboram a eficácia da TCC na fase eutímica (estável), com melhora significativa na funcionalidade e qualidade de vida.


7. Acupuntura no Tratamento do Transtorno Bipolar

A Acupuntura, prática milenar da Medicina Tradicional Chinesa (MTC), tem ganhado espaço como coadjuvante no tratamento de transtornos do humor, incluindo o Transtorno Bipolar.

7.1. Fundamentos da Acupuntura

Segundo a MTC, o Transtorno Bipolar estaria relacionado ao desequilíbrio energético, afetando principalmente os meridianos do Coração, Fígado e Baço. O tratamento busca restaurar a harmonia.

7.2. Efeitos da Acupuntura

Estudos sugerem que a acupuntura:

  • Regula neurotransmissores (serotonina, dopamina, noradrenalina).
  • Reduz a atividade do eixo HHA (associado ao estresse).
  • Melhora o sono e a ansiedade.
  • Promove relaxamento e bem-estar.

7.3. Protocolo Clínico

Não existe um protocolo universal, mas pontos como Shenmen (Coração 7), Baihui (VG20), Yintang (ponto extra), Fígado 3 e Baço 6 são comumente utilizados em quadros de agitação e ansiedade.

O uso da Eletroacupuntura é aplicável para potencializar os efeitos clínicos, podendo gerar resultados importantes após 20 minutos de estimulação.

7.4. Evidência Científica

Um estudo randomizado publicado (Dennehy et al., 2009) mostrou que a acupuntura como tratamento adjuvante melhorou significativamente os sintomas depressivos em pacientes bipolares em comparação ao grupo controle.

Outro estudo (Matsuura et al., 2022) identificou que a combinação de acupuntura e farmacoterapia reduziu efeitos colaterais dos medicamentos e melhorou a qualidade de vida dos pacientes.


8. O Cuidado Integrativo e Multidisciplinar

O sucesso do tratamento depende de uma abordagem integrativa:

  • Psiquiatra: avaliação psiquiátrica, prescrição e monitoramento fisiológico.
  • Psicólogo: para psicodiagnóstico, psicoterapia, especialmente TCC.
  • Acupunturista: para modulação energética e neuroquímica.
  • Familiares: para suporte emocional e observação.
  • Paciente: para adesão ativa ao processo terapêutico.

9. Considerações Éticas e Psicossociais

O estigma relacionado ao transtorno bipolar ainda é uma grande barreira. O preconceito pode dificultar o diagnóstico precoce e a adesão ao tratamento. Portanto, é fundamental promover a psicoeducação e campanhas de conscientização, além de fortalecer redes de apoio social e o acesso ao tratamento multidisciplinar.


10. Conclusão

O Transtorno Bipolar é uma condição complexa que requer uma abordagem biopsicossocial. Embora o tratamento farmacológico seja importante, as intervenções psicoterapêuticas, como a Terapia Cognitivo-Comportamental e o Acompanhamento Terapêutico, e as terapias integrativas, como a Acupuntura e Eletroacupuntura, mostram-se altamente eficazes. O cuidado personalizado, centrado na pessoa, possibilita mais estabilidade, bem-estar e autonomia para o paciente.

Investir na articulação entre ciência, tradição e empatia é o caminho mais promissor para ampliar as possibilidades terapêuticas e devolver dignidade à trajetória de quem convive com o Transtorno Bipolar.


Referências

  1. American Psychiatric Association (APA). Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais – DSM-5-TR, 2023.
  2. Ball JR, Mitchell PB, Corry JC, Skillecorn A, Smith M, Malhi GS. A randomized controlled trial of cognitive therapy for bipolar disorder: focus on long-term change. J Clin Psychiatry. 2006 Feb;67(2):277-86. doi: 10.4088/jcp.v67n0215. PMID: 16566624.
  3. Dennehy EB, Schnyer R, Bernstein IH, Gonzalez R, Shivakumar G, Kelly DI, Snow DE, Sureddi S, Suppes T. The safety, acceptability, and effectiveness of acupuncture as an adjunctive treatment for acute symptoms in bipolar disorder. J Clin Psychiatry. 2009 Jun;70(6):897-905. doi: 10.4088/JCP.08m04208. Epub 2009 May 5. PMID: 19422756.
  4. Matsuura Y, Hongo S, Taniguchi H, Yasuno F, Sakai T. Effect of Acupuncture on Physical Symptoms and Quality of Life in Treatment-Resistant Major Depressive Disorder and Bipolar Disorder: a Single-Arm Longitudinal Study. J Acupunct Meridian Stud. 2022 Dec 31;15(6):336-346. doi: 10.51507/j.jams.2022.15.6.336. PMID: 36537116.
  5. Organização Mundial da Saúde (OMS). CID-11. Genebra, 2019.

Autor: Alex Tavares é psicólogo (CRP 07/11807), psicoterapeuta, mestre em Psicologia (UFRGS), supervisor presencial e/ou on-line em Acompanhamento Terapêutico, Psicologia e Terapia Cognitiva-Comportamental (TCC), menção honrosa pelo Conselho Regional de Psicologia (CRPRS). Além disso, é autor de vários livros e artigos publicados em livros, revistas e periódicos nacionais e internacionais. Desde 2005, tem autorização do Conselho Federal de Psicologia do Brasil (CFP) para prestar a Psicologia On-Line. Autor do primeiro livro de Psicologia on-line do Brasil e primeiro livro digital do planeta sobre atendimento via internet com área de membros 24 horas, vídeos, sons (mp3) e jogos virtuais (Quiz). Criador do 1º “Congresso On-line de Saúde Mental” do planeta. Coordenador do primeiro curso de Acompanhamento Terapêutico via internet do planeta. Professor da Academia Portal Dr: desenvolvimento pessoal com saúde e ciência. Ele também tem Canal de Psicologia, saúde e desenvolvimento pessoal no YouTube.


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